Uma
das ideias mais amplamente aceitas pelo público, dos mais letrados aos mais
leigos e desinformados, é a ideia de que se os políticos fossem obrigados a
matricular seus filhos em escolas públicas, essas teriam seu padrão elevado e
consequentemente a educação brasileira alcançaria níveis de rendimento satisfatórios.
Se há uma solução política que é vista com um total messianismo, com certeza é
esta.
Aqueles
que defendem e almejam tal medida são dominados por uma total ingenuidade no
que concerne a natureza e a índole dos políticos. Uma das coisas mais óbvias
que eles tendem a ignorar é que políticos não cumprem a lei. Isso já deveria
ter ficado claro, ainda mais em um país como o Brasil. Ligue a TV em qualquer
dia do ano e verá que se tem uma coisa que os políticos não dão à mínima, esta
coisa é a lei.
Peculato,
lavagem de dinheiro, tráfico de influencia, corrupção, compra de voto, uso
indevido de passaportes diplomáticos, nepotismo... tudo isso fere a lei e é
diariamente praticado por políticos Brasil a dentro. Tenha certeza, enquanto
você respira, algum ato ilegal está sendo cometido por políticos; e há uma
grande chance de passarem impunes por isso.
Dessa
forma, uma vez que seja criada uma lei que obrigue filhos de políticos a estudarem
em escolas públicas, saiba que essa lei será completamente desrespeitada.
Somente uma minoria risível dos políticos a cumpririam.
Contudo,
para mostrarmos a total falta de coerência que essa proposta apresenta, eu
encarecidamente peço ao leitor que, juntamente comigo, finja que os políticos
terão consciência e cumprirão a exigência dessa medida caso ela fosse imposta;
ou seja, acreditem cegamente que eles de fato colocarão seus filhos em escolas
públicas.
Uma
vez que os filhos de marajás estão estudando no “sistema público de educação de
qualidade para todos”, muitos devem pensar consigo mesmos:
-
Agora sim essa po#@ vai pra frente!
Infortunadamente,
ainda assim os alunos das escolas públicas continuaram a ver navios, sonhando
com um ensino digno.
Políticos
são pessoas influentes e que possuem diversas conexões; “contatos”, na
linguagem popular. Isso quer dizer que, preocupados com a educação de seus
filhos, vão procurar as melhores escolas (as menos ruins) e lá manterão seus
filhos. Na intenção de cortar gastos, ou simplesmente para poupar o trabalho de
investir e melhorar a educação pública, os políticos colocarão todos os seus
filhos em uma só escola e lá concentrarão grande parte da verba da educação de
todo o município. O que antes era melhor repartido entre as escolas da cidade,
agora está nas mãos de apenas uma, ou poucas.
E
não se enganem, se tem algo que os políticos fazem com perfeição são alianças
para driblarem a lei, veja o caso do nepotismo cruzado.
Como
se tudo dito acima já não fosse o bastante para mostrar as inúmeras falhas de
tal ideia genial, há ainda uma série de fatores que não levamos em consideração.
Um deles é o fato de que há cidades cujos políticos não possuem filhos, ou
ainda, possuem pouquíssimos comparados com a quantidade de escolas públicas.
Essa é a realidade das grandes cidades, como metrópoles e capitais, por exemplo;
nelas a quantidade de filhos de políticos é pífia comparada com a quantidade de
escolas, falando a nível proporcional. Ou então, se os filhos dos políticos em
cargo se graduarem, como ficará a condição das escolas públicas? Os políticos
ainda zelariam pela qualidade das mesmas, uma vez que eles não possuem mais
incentivos para melhorar a qualidade do ensino já que seus filhos se formaram?
Infelizmente,
medidas aparentemente eficientes como essas, baseadas não na lógica e experiência
mas sim na suposição e ingenuidade, povoam o pensamento político brasileiro. Como
as leis são criadas por políticos, pessoalmente duvido muito que algum dia eles
criem uma lei que os obrigue a colocar seus filhos nas escolas, mas, se algum
dia o fizerem, não mudará nada, como foi demonstrado no decorrer do texto.
Ou mandarão seus filhos estudarem na Europa (ou vão proibir os filhos dos políticos estudarem fora?)
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