Sobre a impossibilidade do Anarcocomunismo

Recentemente, em um de meus momentos de ociosidade cibernética, me deparei com o seguinte termo no facebook: “anarcocomunismo”. Depois do choque inicial que senti ao ler tal termo, me senti meio que na obrigação de refletir comigo mesmo o quão absurda é somente a idéia de se juntar o sufixo “anarco” com “comunismo”.

De uns tempos pra cá, surgiu uma onda de anarquismo na internet, seja por rebeldia de uma geração que quer melhorar o mundo mas não sabe como, ou seja por puro modismo, mas o sufixo “anarco” nunca se viu tão presente quanto nos dias atuais. Se tem uma coisa que caracteriza essa geração é buscar uma ideologia que, em meio de tantas crises e conflitos econômicos e sociais, vai de alguma forma trazer uma solução de paz e prosperidade para todos. Como resultado, vemos um monte de gente com máscaras do Anonymous achando que vão mudar o mundo de trás de seus computadores, ou então em protestos sem um mínimo de significado. O que é mais bizarro ainda são os casos de anarquistas reclamando por 10% do PIB na educação, o que seria somente contraditório também carrega um ar de idiota.

É claro que seria injusto aqui não distinguir aqueles que realmente abem o que estão falando daqueles que nem sequer sabem do que se trata. Se há um grupo cujo sufixo “anarco” realmente é empregado com um mínimo de coerência, esse grupo é o dos anarcocapitalistas.  Apesar de ser um mero minarquista, não posso negar que os membros desse reduzido grupo fazem o seu dever de casa, isto é, sabem o que defendem e não saem por ai dando tiro para todo lado na esperança de resolver os problemas da humanidade.

Alguém que se diz anarcocapitalista não está cometendo nenhuma contradição lógica pelo simples fato de que o capitalismo, isto é, o mercado em si não tem necessidade do Estado para operar, muito pelo contrário, o Estado em grande parte dos casos é um problema ao mercado. O Estado cria impostos, intervenções, protecionismo, regulamentações, inflação, etc. Tais coisas distorcem o funcionamento natural e saudável do mercado. Com base nisso o anarcocapitalismo não é contraditório, tampouco incoerente.

Agora vamos ao centro da questão: por que o anarcocomunismo seria impossível? A principio, essa era a ideia de Marx, o anarquismo o fim de todo o sistema comunista arquitetado por ele. Uma vez todos os meios de produção na mão do Estado, mais especificamente, na mão de “zeladores” delegados pelo Estado, o Estado seria extinto, criando-se assim o ambiente anarquista.

Tal ideia torna-se absurda a partir do momento em que percebemos que os ditos zeladores se tornariam os novos proprietários, isto é, os detentores dos meios de produção. Não só isso, sem o Estado para oprimir e controlar, o que impede que estes zeladores façam o que bem quiser com os meios de produção outrora adquiridos? Eles poderão vender, investir, ampliar, modificar, etc. Eles passarão a agir como os proprietários de antes, aqueles tão temidos e odiados pelos comunistas (socialistas e esquerdopatas em geral). 

Além disso, os anarcocomunistas ignoram que as pessoas possuem a Capacidade Inventiva (ironicamente, esse termo foi academicamente "cunhado" pelo próprio Marx), ou seja, por meio de sua inteligência e engenhosidade, poderão criar seus próprios meios de produção, coisa bastante comum até, basta olharmos certos segmentos do mercado informal. O que antes elas não podiam fazer graças a fiscalização e coerção do Estado, elas agora podem porque...não há mais Estado!

Bem, explicar uma coisa tão ilógica como esta é algo que ninguém deveria se dar ao trabalho de fazer tendo em vista a grande contradição teórica que a engloba, entretanto, por incrível que pareça, ainda vivemos em uma época onde a falácia da janela quebrada é algo popularmente aceito, quem diria uma coisa tão tosca como o anarcocomunismo.