domingo, 4 de novembro de 2012

Resposta ao Clairon: Meritocracia




O vídeo acima é uma recente crítica feita pelo vloggueiro Clarion à forma como encaramos a meritocracia pela ótica do mercado. Ignorando a forma debochada e ridicularista que ele apresenta a sua crítica, ainda assim não deixa de mostrar as inúmeras falhas que ele comete ao criticar a forma como o mercado premia as pessoas.

Logo no começo, ele compara o mercado com uma entidade divina que tudo sabe e tudo corrige, agindo por meio de uma sapiência chamada “mão invisível”, em seguida, se vangloria de seu ateísmo (ceticismo) por questionar as verdades dessa divindade.  É justamente aí que reside o primeiro erro de Clarion, o de comparar o mercado com uma entidade à parte da sociedade; verdade que ele fez isso apenas como figura de linguagem, isto é, exagero, mas não muda o fato de que ele deturpa a natureza do mercado.

O mercado não é uma entidade a parte da sociedade, ele é justamente formado pela sociedade. O mercado nada mais é que um conjunto de consumidores e vendedores que entram em contato para trocar aquilo que em um momento eles dão menos valor para algo que eles dão mais valor. Explicando melhor: ao entrar em um restaurante, você está disposto a trocar algo que naquele momento você dá menos valor (dinheiro) por algo que naquele mesmo momento você dá mais valor (comida), ao passo que o comerciante, ou seja, o dono do restaurente, está disposto a fazer a mesma coisa, ele trocará algo que ele dá menos valor (comida) por algo que dá mais valor (dinheiro). Isto é o mercado. A analogia mercado X divindade de Clarion, apesar de ser um mero recurso linguístico, deturpa toda a natureza social e interativa que o mercado possui. O mercado não é uma entidade autônoma que opera sozinha, tampouco algo que existe à parte das pessoas.




Um pouco mais à frente em seu vídeo, ele diz que o mercado enxerga apenas a virtude do dinheiro. O grande problema nessa parte a confusão que Clarion faz em relação à “virtude” e “objetivo”. O dinheiro para o mercado é um objetivo, um fim, uma meta, e não uma virtude. Virtudes são um conjunto de normas morais que nos usamos para chegar a determinados objetivos ou simplesmente viver de forma pacífica, por meio dessa definição dá pra ver a enorme confusão de Clarion ao colocar dinheiro como a virtude do mercado.

É claro que é de conhecimento geral que o mercado tem como fim máximo a busca por lucro (dinheiro), mas por que isso seria algo ruim? Na verdade, isto não é ruim, muito pelo contrário, é justamente isso que torna o mercado tão eficiente. Ao buscar o lucro como fim máximo, um vendedor terá que conquistar seus clientes por meio de seu produto ou serviço, se for em um ambiente com uma alta concorrência, a coisa fica ainda melhor para os consumidores; o vendedor terá que oferecer produtos de melhor qualidade e preço inferior que os seus concorrentes, caso contrário ele estará perdendo clientes, logo, estará perdendo o tão almejado lucro (dinheiro). Em outras palavras, a busca pelo dinheiro no mercado – desde que este seja livre – é benéfico ao consumidor.

Em seguida, Clarion argumenta que um vendedor mentiroso, enganador, larápio teria mais chances de ser promovido do que um honesto que apenas fale a verdade ao cliente. Bem, em um livre mercado onde há concorrência pelo lucro (desejo do consumidor), um vendedor mentiroso só se daria bem no inicio quando os consumidores não teriam consciência da qualidade de seu produto e de sua honestidade pessoal; logo que perceberem que o produto comprado/consumido é de qualidade ruim ou duvidosa, os consumidores deixarão de comprar deste mesmo vendedor e passarão a comprar do honesto.

Além do mais, como diria o autor Roberto Shinyashik: “o mercado é uma vila de velhas fofoqueiras”. O que ele quis dizer com isso? O que essa analogia entre mercado e vila de velhas fofoqueiras tem haver com tudo isso? É simples, assim como em uma vila de velhas fofoqueiras, o mercado é formado por pessoas que trocam informações entre si a respeito de outras pessoas, mais especificamente, os vendedores. Numa vila de velhas fofoqueiras, as pessoas constantemente comentam entre si o que fulano ou sicrano estão fazendo, se são pessoas de caráter, etc. No mercado é a mesma coisa, porém, o que é comentado nada mais é que a qualidade dos serviços e produtos prestados. Em suma, o vendedor mentiroso que oferece produtos de qualidade duvidosa não terá uma sorte a longo prazo no mercado.

Mais à frente ele salienta que um psicopata tem quatro chances mais de chegar a presidência de uma empresa porque, segundo ele, um psicopata tem qualidades desejáveis para o mercado. Bem, há estudos que mostram que não ter conta no facebook também é um indiciode psicopatia, e só pro isso eu não tenho medo da minha vizinha de 50 anos que não tem facebook.

De fato, essa informação é verdadeira, porém, é apresentada de forma tendenciosa. É verdade que psicopatas possuem qualidades que o mercado premia, entretanto, tais qualidades não são exclusivas de um psicopata; elas podem muito bem se apresentarem separadas da psicopatia(maldade). Um psicopata é por natureza confiante, destemido, seguro de si, determinado, etc. Entretanto, há pessoas que possuem essas qualidades SEM serem psicopatas. Falar que psicopatas são mais facilmente promovidos é uma meia verdade; o que gera a promoção são as qualidades acima e não a psicopatia, o problema é que todo psicopata apresenta tais qualidades.

Mas eu devo concordar com Clarion quando ele diz que há pessoas que nascem em melhores condições do que outras. Com certeza a vida de Thor Batista é bem melhor e mais fácil que a minha ou do que a sua, caro leitor; entretanto, como eu já mostrei nesse post, em um livre mercado onde empresas podem entrar com facilidade, pessoas que nasceram em berço de ouro tem que se esforçar para manterem sua riqueza, mesmo que essa tenha sido provida por meio de herança. A constante concorrência do mercado obrigará o herdeiro rico a trabalhar e arquitetar medidas para manter sua riqueza graças a seus concorrentes reais e potenciais; e tal esforço pode ser enquadrado na categoria de mérito.

Seguindo o vídeo ele argumenta que pessoas que saíram da pobreza são uma minoria ridícula comparada as que não saíram. A questão é que isso não invalida a importância da meritocracia. A grande verdade é que as pessoas, de uma forma geral, tendem a ser medianas em quase todas as qualidades comuns aos homens, é a Distribuição Gaussiana; adultos de 1,75m são bem mais comuns que adultos de 2,10 ou 1,10m , é a lei natural das coisas. O fato de um único individuo se sobressair dos demais não torna o mérito em si algo sem valor.

Se alguém que ‘’vendia pastel na feira’’ se deu bem, ao passo que a grande maioria não, quer dizer que ele se esforçou melhor que os outros, ele foi mais austero, soube administrar melhor o seu ganho, ao passo que os outros não conseguiram, seja por sua incapacidade ou por impulsos que os fizeram gastar mais. Dizer que essa pessoa não teve mérito, ou que a meritocracia não é válida, é algo bastante falacioso.

Ao fim do video, percebemos que Clarion não apresenta nenhuma solução aparente a esse problema da distorção meritocrática. O que vemos em todos os sete minutos de vídeo não passam de informações tendenciosas, deboches e figuras de linguagem que mais são uma apelação para tenta atingir e convencer seu público alvo.

2 comentários:

  1. O que tem que ficar claro também é que quem mais deixa as pessoas pobres é o próprio governo que força todos a trabalharem 5 meses por ano como escravos para pagar impostos. Imagine se essa renda ficasse no bolso das pessoas. E se as empresas não precisassem pagar impostos? Os produtos e serviços seriam mais baratos.

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